15 de mai. de 2016

Papo Cabeça: A gente reclama de tudo!

A gente reclama de tudo - Blog Papo RefinadoA gente reclama de tudo.

Reclama que acorda cedo, que dorme tarde... estamos sempre apressados, incomodados com algo que, as vezes até nem sabemos o que é.

A gente reclama de tudo. Trânsito, esperas, filas. Reclama do almoço, do jantar, do cafezinho fraco da padaria.

A gente reclama. A gente só sabe reclamar.

Fiz essa reflexão ontem ao ver um menino de aproximadamente 10 anos, morador de rua, pedir a um senhor que estava na parada do ônibus um lanche pra saciar a fome. Observei a cena. A humilhação do "pedir", a bondade do homem que se comoveu com a situação do garoto sujo, imundo, que é a escória da sociedade. Ele se comoveu. A situação me comoveu.

Acompanhei com o olhar atento o momento em que esse homem pagou um lanche pro garoto, que devorou em segundos o cachorro quente "frio" da tia. Esse senhor conversou com o menino, poucas palavras, ele estava com a boca cheia pra responder... ele não tinha tempo a perder. Ele estava faminto.
Talvez fosse um "trombadinha", cheira-cola. Um menor infrator, usuário de pó. Tanta coisa passou pela cabeça. 
Não era pra aquele menino estar ali. Não era.

Lugar de criança é na escola, com o caderno e o lápis nas mãos. E eu me indaguei sobre tanta coisa naquele momento... E os pais do garoto, onde estariam? Eu que sou mãe, pensei em Luísa no exato momento, que estava alimentada, bem vestida e estudando numa boa escola, mas... e aquele menino? Por que ele também não estava na escola? E quem se importa? 

A miséria é vista como algo normal, natural.
Faz parte do cartão postal de Recife as centenas de mendigos que residem em pontos movimentados da cidade, como a Av. Conde da Boa Vista, a Av. Guararapes e a Praça do Diário, por exemplo. É algo trivial de se ver, mas, não... Não é normal.
Praça do Diário de Pernambuco - Recife Centro - Blog Papo Refinado

Não posso achar normal pessoas viverem e morrerem em condições desumanas. Não posso e nem consigo ser fria a esse ponto.
Enquanto a minha mente viajava nessa questão social, o menino que, antes devorava o lanche com rapidez, partia caminhando devagar. Ele ainda soltou um: "Valeu, tio!", antes de sair.

Ele soube agradecer. Eu me senti grata em saber que ele estava grato. Aquela cena modificou o meu dia. Aquele menino mexeu comigo. Eu agradeci aos céus por tudo que eu tinha, não apenas por me sensibilizar, mas por saber que eu não tenho tantos motivos assim pra reclamar da vida. E você, reclama de que? (...)

Por: Lívia Couto
Estudante de Letras - UFPE
* Texto publicado com autorização da autora.

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